Profª Fabiane Lima
fabianelim@gmail.com
Desenhe uma bicicleta de memória...
Do latim, "designare": desenhar um símbolo. Pode significar plano, desígnio, intenção, configuração, arranjo, estrutura; designar, dar propósito a, desenhar, projetar. Mesma raiz etimológica de "signo".
(CARDOSO, 2008)"As palavras 'design', 'máquina', 'técnica' e 'arte' têm uma relação muito próxima entre si: um conceito é impensável sem os outros [...] A sociedade burguesa moderna separou rigidamente o mundo das artes do mundo da tecnologia e das máquinas e, em certo sentido, a cultura foi dividida em dois ramos alienados um dos outros [...]. Assim, 'design' atualmente indica qualquer situação em que a arte e a técnica (aí inclusos o pensamento analítico e científico) combinam forças para facilitar o caminho para uma nova cultura."(FLUSSER, 1995)
Alexandre Wollner
(NIEMEYER, 2007)
Trata-se de uma interdisciplina cujos profissionais atuam em áreas limítrofes à arquitetura, engenharia, artesanato, artes plásticas e, mais recentemente, à computação.
“Os aspectos essenciais das relações dos usuários com os produtos industriais são as funções dos produtos, as quais se tornam perceptíveis no processo de uso e possibilitam a satisfação de certas necessidades”.(LÖBACH, 2000)
São funções práticas todas as relações entre um produto e seus usuários que se situam no nível orgânico-corporal, isto é, fisiológicas.
"O objetivo principal do desenvolvimento de produtos é criar as funções práticas adequadas para que mediante seu uso possam satisfazer as necessidades físicas. As funções práticas dos produtos preenchem as condições fundamentais para a sobrevivência do homem e mantêm a sua saúde física."(LÖBACH, 2000)
A função estética é a relação entre um produto e um usuário no nível dos processos sensoriais. É um aspecto psicológico da percepção sensorial durante o seu uso.
"Toda aparência material do ambiente, percebido através dos sentidos, é acompanhada de sua função estética. Ela está atrelada à configuração do objeto à aparência do produto industrial. Visto que a aparência do produto atua positiva ou negativamente sobre o usuário ou sobre o observador, ela provoca um sentimento de aceitação ou rejeição do produto."(LÖBACH, 2000)
O uso sensorial de produtos industriais depende da percepção consciente das suas características estéticas.
A função estética dos produtos promove a sensação de bem-estar, identificando o usuário com o produto, durante o processo de uso.
Um objeto tem função simbólica quando a espiritualidade do usuário é estimulada pela percepção deste objeto, ao estabelecer ligações com suas experiências e sensações anteriores.
A função simbólica deriva dos aspectos estéticos do produto, o que por vezes tornas as funções estética e simbólica interdependentes.
"Quando um determinado grupo de pessoas que possui um status social bem definido prefere e utiliza exclusivamente um tipo de produto industrial, pode-se dizer que esse produto passa a representar o status do usuário."(LÖBACH, 2000)
"...significado, em última instância, reside unicamente na percepção dos usuários (sendo quem faz, o autor ou criador, considerado usuário também). Sem um sujeito capaz de atribuir significado, o objeto não quer dizer nada; ele apenas é. A apreensão de todos os fatores citados deriva da relação entre usuários e artefatos, numa troca de informações e atribuições que se processa de modo contínuo. Em última instância, é a comunidade que determina o que o artefato quer dizer."(CARDOSO, 2012. p. 62)
Artefato: do latim, "artefactus", feito com arte — feito pelas mãos de alguém. Mesma raiz etimológica de "artificial", o que não é natural.
Relaciona-se com a função para a qual foi projetado o objeto, sem se restringir a ela.
"'Uso' é uma palavra que abrange noções interligadas de operacionalidade, funcionalidade e aproveitamento. Nesse sentido, aproxima-se da palavra 'função', comumente empregada para descrever o papel a ser desempenhado por um artefato nas relações sociais. Contudo, a palavra uso é mais adequada, porque não pressupõe que um artefato qualquer tenha uma única vocação, como é frequentemente o caso quando se fala em sua 'função'."(CARDOSO, 2012. p. 63)
Bicicleta
Cocaína
Vibrador
O entorno tem impacto menos explícito, em relação de interdependência com o uso e a duração.
Shopping Estação
Pallet
Container
Relacionado à condição física dos artefatos.
"Para entender o significado de um artefato com qualquer profundidade é preciso saber o que já se passou com ele ou, no caso de um artefato móvel, por onde ele passou. A existência de qualquer objeto decorre dentro de um ciclo de vida que comporta desde sua criação até sua destruição. Quanto mais tempo ele consegue resistir - ou seja, manter-se íntegro e reconhecível - maior será a chance de incidirem sobre ele mudanças de uso e de entorno."(CARDOSO, 2012. p. 66)
Fusca
Verbete sobre a CCE na Desciclopédia
Disco de vinil
Arcos da Lapa
Diz respeito ao ponto de referência a partir
do qual o objeto é analisado.
"Sempre que se investiga o significado de um artefato, é preciso perguntar: quem olha? A partir de onde? Procurando o quê?"(CARDOSO, 2012. p. 68)
Café
Camaro
Banqueta W. W. Stool — Phillipe Stark
Refere-se ao modo como o ponto de vista
de cada um encontra sua tradução para outros.
"Se eu for uma pessoa muito independente, posso descobrir por conta própria o ponto de vista que me convém, mas como faço para comunicar essa minha preferência a outras pessoas com as quais, porventura, eu queira dividir minha experiência? Torna-se necessário representar a experiência por meio de linguagens (verbais, visuais ou outras), e as representações necessariamente agregam sentidos e afetam a compreensão do artefato."(CARDOSO, 2012. p. 68)
Camiseta Star Wars
Adesivo da Apple
Abercrombie & Fitch:
"Fat, ugly people shouldn’t buy our clothes"
Condicionada ao repertório pessoal
de quem interage com o objeto.
"Quando se fala em experiência, a referência é aquilo que é íntimo e imediato na relação de cada um com o artefato em mãos."(CARDOSO, 2012. p. 69)
Sintetizador Korg
Filatelia
Camiseta do São Paulo Futebol Clube — 1992
Todos esses fatores operam juntos e funcionam dentro da lógica e do devir do TEMPO, ou seja: possuem significados passíveis de mudança.
"A capacidade de lembrar o que já se viveu ou aprendeu e relacionar isso com a situação presente é o mais importante mecanismo de constituição e preservação da identidade de cada um."(CARDOSO, 2012. p. 73)
"Memória é a experiência deslocada do seu ponto de partida na vivência imediata."(CARDOSO, 2012. p. 74)
"A memória é falha. [...] a memória humana não é um banco de informações no qual depositamos experiências para depois as retirarmos intactas."(CARDOSO, 2012. p. 75)
"Mais do que a simples ação de recuperar uma vivência, a memória é um processo de reconstituição do passado pelo confronto com o presente e pela comparação com outras experiências paralelas."(CARDOSO, 2012. p. 75)
"A identidade está em fluxo constante e sujeita a transformações, equivalendo a um somatório de experiências, multiplicadas pelas inclinações e divididas pelas memórias. Quando se pensa que o sujeito existe, ao longo de sua vida, rodeado por enunciados e informações, produtos e marcas, design e projeto, começa-se a ter uma noção das múltiplas maneiras em que memória e identidade podem interagir para mudar nossa visão do mundo material e condicionar nossa relação com os artefatos que nos cercam."(CARDOSO, 2012. p. 92)
Ler o texto "Utilidade e Significado", de John Heskett, disponível neste link — página 33 a 46 do PDF.