No primeiro texto depois que voltei a escrever no blog eu disse que escrever é um talento que se desenvolve através da prática, e que existe técnica envolvida. Quando disse aquilo não o disse por ser uma expert no assunto e ganhar dinheiro dando aulas disso por aí; simplesmente concluí que, como toda atividade e talento que parece inato, escrever é, antes, uma habilidade que se desenvolve.
Ainda que eu não esteja colocando aqui o resultado desses meus treinos, tenho escrito muito. Em quinze dias foram oitenta e sete páginas de um caderninho que uso para anotações, devaneios, estudos… enfim, qualquer coisa em que eu estiver pensando no momento. Escrevo todos os dias, e quando não estou escrevendo, penso no que poderia escrever. Todo esse treino tem rendido bons frutos, mas o principal deles é que finalmente entendi como funciona o processo através do qual adquiro um conhecimento ou habilidade.
OK, não. O que compreendi na verdade é a forma pela qual eu NÃO aprendo alguma coisa. E, sendo sincera, é algo que eu já sabia o tempo todo.
Explico: minha forma de aprender não pode envolver qualquer tipo de regra. Eu nunca aprendi direito, por exemplo, a regra da crase. Sempre que digo isso aparece alguma bem intencionada criatura para dizer que “ah, mas é simples, quer ver só?”, e me explicar novamente a tal da regra da crase, ignorando totalmente meus protestos dizendo que assim não vou aprender nunca, e achando que é total falta de vontade de minha parte*. Eu nunca vou aprender isso na minha vida, não desse jeito.
Porém, eu sei — e sei que sei — um milhão de outras regras que nunca me esforcei para aprender porque adquiri esse conhecimento de forma muito natural: vendo aquelas palavras passarem diante dos meus olhos incontáveis vezes e notando os padrões. Foi assim que aprendi inglês**, é assim que quero aprender (de verdade, e não esse portunhol sem vergonha que todo brasileiro acha que sabe) espanhol. É por isso que gosto tanto de História, Literatura e narrativas em geral; aquele emaranhado de fios que posso ir desfazendo os nós e tecendo significado. Foi por causa disso que as Ciências Exatas se tornaram um completo enigma para mim*** e, obviamente, o motivo pelo qual me tornei essa esponja de assuntos aparentemente desconexos que os mais espertos chamam de interdisciplinaridade.
Talvez isso seja um tipo de inteligência — ou um tipo muito grave de deficiência de raciocínio abstrato. Mas entendendo como eu aprendo as coisas, fica muito mais fácil aprender qualquer coisa. Inclusive Matemática.
*Porque parece mesmo. E talvez seja.
**Não sou fluente porque tropeço nas regras. Sempre tem uma delas para atrapalhar meu caminho…
***A Física, em compensação, eu entendo melhor. Deve ser porque ela tem “porquês” que a Matemática propriamente dita não tem.
Aprendi inglês à moda caralha também, lendo man pages, ouvindo música, vendo seriado, lendo blogs, etc. Se não fosse o interesse cultural, de ler, ouvir e ver mais conteúdo sobre coisas que me interessavam, provavelmente não teria aprendido. O que é chato, porque não conheço nada de outras culturas que me interesse a ponto de querer aprender o idioma. Se pá eu devia aprender Eiffel, ou começar a ler quadrinho europeu.