Patinação

Queria ter escrito alguma coisa ontem mas não consegui. Primeiro porque o tema seria inevitavelmente as tais das manifestações — sei disso porque cheguei a rascunhar um parágrafo e estacionei ali. Segundo porque apesar de ser um exercício, esse negócio de escrever tem que ser feito com um mínimo de prazer, e ontem isso simplesmente não foi possível.

Pois bem. Hoje pelo visto é o dia mais frio do ano até o momento, e daqui pra diante eles serão cada vez mais curtos, úmidos e frios. E não sei mais o que pensar sobre outonos além do fato de que são, pelo menos aqui, irregulares: apesar de a chuva ser mais ou menos constante, o calor fica indo e voltando, e com isso a saúde se esvai e os mofos tomam conta das paredes.

Se falo de clima e tempo é porque não tenho nenhum assunto no momento. Mas falando em mofos e paredes, penso aqui que eu queria ter meus próprios mofos crescendo em paredes só minhas. Aparentemente esse desejo, que é minha única ambição na vida, ainda vai demorar muito pra se realizar. Lembro que quando adolescente minha vontade não era ter um quarto só meu (algo que só consegui ter aos 26 anos de idade), mas uma casa inteira só para mim.

Uma vez que para isso acontecer seria necessário um aumento significativo na minha renda, já perdi as esperanças. E depois de dezoito anos de estudos formais, e sete atuando no mercado, só consigo pensar que todas as vezes em que me vi diante de uma escolha, escolhi errado. A profissão, a pós-graduação, até a roupa que estou vestindo hoje. Não conheço muita gente com o meu perfil para poder fazer alguma comparação e ver mais ou menos o meu progresso na corrida da vida; a maioria dos meus ex-colegas de faculdade tinha condições financeiras muitas ordens de magnitude melhores que as minhas.

Para resumir, eu não sei o que fiz de errado. Não sei nem se estou de fato fazendo algo errado, porque isso pode muito bem ser um reflexo do cenário econômico ou do momento histórico atual, ou de sabe deus de que outras variáveis que se possam considerar aqui. O fato é que tento permanecer sob meu teto atual o mínimo possível e, quando não há outro jeito, tento me alienar o máximo que posso. Não consigo mais suportar a idéia de que posso chegar aos trinta ainda vivendo sob o mesmo teto que minha família e sem ter uma vida própria, com meus horários próprios, com meu próprio ritmo. Não que minha família seja ruim: eles já foram muito piores. Mas eu preciso dessa independência deles pra me sentir minimamente realizada. Quando digo que é minha única ambição na vida, não estou brincando.

Talvez o clima, combinado a hoje ser finalmente dia de pagamento, tenha me feito melancólica hoje. Mas se for para patinar, que o deslize seja ao menos para frente. Cansa um bocado ter azar até quando se tem sorte.


PS: O Google Docs diz que o texto, até antes do acréscimo dessa notinha, tinha exatamente quinhentas palavras. Quando colei aqui no WordPress, ele acusou 498. Acredito que este esclarecimento seja suficiente para preencher a cota.

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2 Comments

  1. Compartilho dessa sensação de ter feito todas as escolhas erradas possíveis. E ainda tem a certeza de que a próxima decisão, seja ela qual for, também vai ser um equívoco. Comolidar, né? rs

  2. Por falar em decisões erradas, que eu sempre tomei também, hoje surgiu mais uma. Finalmente consegui um emprego na minha área depois de tanto tempo procurando, não é exatamente o que eu quero, mas é um começo. Durante a tarde, recebo um email da UTFPR me avisando sobre a 11ª chamada para o curso de Telecomunicações, que eu já tinha até perdido a esperança.

    Essa é a merda, eu trabalho das 13h às 23h e o curso é noturno. Não quero largar o trabalho e nem quero perder a oportunidade da faculdade.

    Farei a escolha errada? Certamente sim 😀

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