Enquanto designers do mundo todo discutiam (e ainda discutem) as mazelas de um mundo habitado por seres intelectualmente inferiores que usam Comic Sans indiscriminadamente, eu estava rabiscando papéis com uma caneta permanente, desenhando letrinhas e selecionando as melhores para um futuro e despretensioso projeto tipográfico. Vetorizei tudo automaticamente com o Inkscape, colei no FontForge, ajeitei mal e mal as métricas, exportei e nascia assim a Comiquita Sans.
Não sei como, onde, em que momento e porquê esta minha fonte fez tanto sucesso, mas é a fonte de mais sucesso até hoje na história das minhas fontes bastardinhas. Só no DaFont, um dos sites onde ela é distribuída e o único onde tenho estatísticas sólidas, até o momento em que escrevo ela teve 75.568 downloads. Por se tratar de uma fonte gratuita de livre distribuição, outros sites a distribuem livremente, então é bem possível que esses números sejam ainda maiores.
A verdade é que a bichinha ganhou o mundo e hoje está presente em jogos, impressos e, claro, histórias em quadrinhos. Duas pessoas tocando pequenos projetos editoriais de HQs e pelo menos três produtoras de jogos já me contataram pedindo permissão para utilizá-la em seus projetos. Entre eles, dois merecem destaque por já estarem prontos, alive and kicking: o jogo Freekscape e a HQ editada pela sueca Natalia Batista, A Song For Elise.
Vez ou outra, alguém vem torcendo o nariz me mostrar usos ruins da fonte projetada por Vincent Connare, esperando que eu concorde efusivamente com sua opinião. E eu respondo: “Ora, eu tenho a minha própria versão da Comic Sans!”, e mando o link da Comiquita. Não que eu ache o projeto da Comic Sans bom ou ruim – ele cumpriu sua função original, quebrando o visual austero que a Times New Roman dava à interface do Microsoft Bob; isso é design, afinal de contas, e design vai além de gosto pessoal.
De alguma forma que desconheço, mas que acho que provavelmente foi o mesmo que ocorreu com a Comic original, a Comiquita vem satisfazendo necessidades de várias pessoas ao redor do globo, a despeito do desleixo de sua criadora em seu projeto, que estava mais preocupada em aprender como usar o software do que com o projeto de uma boa fonte.
Achei muito legal sua história! Comiquita sans é sucesso 🙂