Antigamente, a melhor forma de se saber a classe social de uma pessoa sem fazer muitas perguntas era perguntar quantos televisores ela tinha em casa. Com essa simples pergunta era possível descobrir se ela morava na zona rural ou urbana, se tinha eletricidade em casa, as religiões a que ela talvez pertencesse, sua classe social e até o tamanho aproximado de sua residência. Sozinha, essa pergunta pode ou não fazer muito sentido a depender do caso, mas ela só comprova uma tendência se acompanhada de outras perguntas que abordem a questão por outros viéses.
É dos padrões que extraímos informação. É por isso que somos viciados neles: nosso cérebro se alimenta das conexões que as informações que jogamos dentro dele fazem. Se tais conexões são aleatórias a ponto de não fazerem sentido, pode ser pareidolia ou proposital nonsense. Há quem mapeie o céu e o relacione ao momento do nascimento, há quem brinque de só pisar na lajota preta, há quem desenvolva transtornos e não consiga fazer certas coisas sem a presença de certas condições aparentemente não relacionadas. Há quem desenvolva idiomas inteiros a partir dessa lógica.
Homens de chapéu têm 50% mais chances de serem babacas: nada mais anacrônico que um homem de chapéu.
Gente que tem exaustor em casa é rica: “bem de vida” para mim é qualquer um que ganhe o suficiente para pagar o próprio aluguel, independente de onde more. Se alguém pode se dar ao luxo de não empestear a casa com a fritura do último bife, essa pessoa é rica.
Canhotos são gente fina: canhotos têm o mundo todo contra eles. Canhotos entendem como a vida pode ser difícil nas pequenas coisas do dia a dia. Outra hipótese é que eu fico embasbacada com algo que eu acho impossível de ser feito: dominar a mão esquerda. Mas já ensinei a minha a pintar as unhas (não as dela mesma, claro).
Não confio em quem numera séculos com algarismos indo-arábicos: é uma tendência moderna, e como algumas tendências modernas — como por exemplo suprimir o trema da língua portuguesa —, são de muito mal gosto estético no que diz respeito ao desenho e às formas das letras, dos diacríticos e, conseqüentemente, ao desenho e ao entendimento das abstrações que chamamos “palavras”. Quem não liga pra esse tipo de coisa não merece falar comigo e nem com o meu anjo.